Transição para uma Cidadania (+) Consciente
Por Filipa Corais
Neste primeiro artigo começo por expressar a minha gratidão à Abayomi Academy por esta oportunidade para explorar, refletir e partilhar conhecimentos, bem como felicitar a instituição pelo alcance do exemplar trabalho já conquistado.
Este artigo aborda o enquadramento temático que será dissecado ao longo dos próximos meses e que pretende dar resposta à seguinte questão norteadora:
De que modo a Cidadania Consciente pode impulsionar uma transição sustentável e integrar abordagens interdisciplinares?
Ao longo dos próximos 11 meses o tema da Cidadania Consciente irá ser abordado de forma transdisciplinar, com um foco acrescido na articulação com as minhas principais áreas de atuação que (acredito) lhe irão conferir uma perspetiva inovadora: arquitetura, urbanismo, mobilidade sustentável, gestão de transição e mudanças climáticas. Pela necessidade emergente de mudança em prol da sustentabilidade, este tema – explorado e refletido no âmbito da minha tese de doutoramento (atualmente em fase de conclusão) – recorre a estudos empíricos de casos práticos, aplicando técnicas de inovação social.
Numa perspetiva Antropocénica (Banerjee, 2021; Crutzen, 2002; Malm & Hornborg, 2014; Wright et al., 2018), a Cidadania Consciente deve impulsionar-nos a transcender a visão predominante centrada no ser humano, reconhecendo o impacto da atividade humana na biosfera e conduzindo, assim, a mudanças de atitudes, comportamentos e mentalidades. Esta tomada de consciência, aliada à incerteza sobre o futuro do planeta devido à ação humana e às práticas económicas capitalistas, apela à integração dos diversos ramos das ciências numa narrativa mais abrangente e holística (Wright et al., 2018). Estudos recentes indicam que a capacitação societal e a sensibilização para o impacto das ações individuais e coletivas são fatores-chave no processo de mudança (Corais, 2021, 2022).
A cidadania consciente, aqui relacionada com a consciência critica do impacto das ações humanas no meio ambiente, na sociedade e na governança, impulsiona a adoção de práticas sustentáveis que visam mudanças sistémicas e estruturais. Este conceito será abordado com base em três pilares principais:
1| Consciência e responsabilidade socioambiental (impacto nas gerações futuras, na equidade e justiça social);
2|Participação ativa e cocriação (com impacto ao nível da tomada de decisão);
3|Inovação e adaptação para a transição (com recurso a ferramentas de inovação social, tais como a cocriação e a gestão de transição).

Gibson et al. (2015) incentivam a adoção da investigação-ação, argumentando que a experimentação aproxima o investigador do objeto de estudo e permite testar novas formas de viver no Antropoceno. Seguindo a linha de pensamento de Crutzen (2002), que atribui uma causa antropogénica – e, portanto, societal – às alterações climáticas, a inovação social e as experiências sociais podem constituir o elo agregador entre a investigação sobre o Antropoceno e a Gestão de Transição (que incorpora a aplicação de Arenas de Transição e Transition Experiments) para promover uma mudança de mentalidade, atitudes e comportamentos mais sustentáveis. Nesse processo de experimentação o/a arquiteto/a investigador/a assume um papel de transdutor, trazendo para o espaço público o teste de soluções que decorrem da interpretação do processo de diagnóstico e da auscultação da população e que revelam impactos significativos para a sociedade (Corais, 2021, 2022).
Nos próximos artigos, explorarei como a inovação social e a experimentação na arquitetura, urbanismo e mobilidade podem ser aplicadas para fortalecer a Cidadania Consciente, trazendo exemplos concretos e estratégias possíveis. Este enquadramento será, assim, a base orientadora dos próximos artigos, norteando uma perspetiva de transição para uma Cidadania (+) Consciente num contexto societal abrangente, vincando a necessidade de aprendizagem mútua – entre investigadores, governança, empresas e sociedade em geral – e de mudança ao nível da cultura, das estruturas das organizações e das práticas quotidianas.
Votos de uma Cidadania (+) Consciente!
Referências Bibliográficas:
Banerjee, S. B. (2021). Celebrating the End of Enlightenment : Organization Theory in the Age of the Anthropocene and Gaia ( and why neither is the solution to our ecological crisis ). https://doi.org/10.1177/26317877211036714
Corais, F. (2021). A Cidade a “Caminhar” para 2050. Braga como Laboratório para um Sistema Urbano Resiliente e Sustentável (Projeto Tese). Universidade do Minho.
Corais, F. (2022). The City “ Walking ” to 2050. Braga as a Laboratory for a Resilient and Sustainable System (MIT Poster Award). MIT Portugal.
Crutzen, P. J. (2002). Geology of mankind – Crutzen – Nature. Nature, 415(January), 2002.
Gibson, K., Rose, D. B., & Fincher, R. (2015). Manifesto for Living in the Anthropocene – Website abstract. http://punctumbooks.com/titles/manifesto-for-living-in-the-anthropocene/#
Malm, A., & Hornborg, A. (2014). The geology of mankind? A critique of the anthropocene narrative. Anthropocene Review, 1(1), 62–69. https://doi.org/10.1177/2053019613516291Wright, C., Nyberg, D., Rickards, L., & Freund, J. (2018). Organizing in the Anthropocene. Organization, 25(4), 455–471. https://doi.org/10.1177/1350508418779649

Filipa Corais é doutoranda na Escola de Arquitetura da Universidade do Minho, com bolsa de investigação do MIT-Portugal/FCT. Arquiteta pela Universidade de Coimbra e mestre em Planeamento e Projeto do Ambiente Urbano pela Universidade do Porto, atua como Chefe da Divisão de Mobilidade no Município de Braga desde 2016. Com experiência docente em diversas instituições internacionais, tem sido reconhecida por seu trabalho em mobilidade sustentável e cidadania consciente, incluindo o Abayomi Academy International Award 2024.
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