Sustentabilidade nas edificações
Por Ana Villaça
Ultimamente, tem sido frequente a observação de termos como “construções verdes”, “arquitetura sustentável”, “eficiência energética nas edificações”, e “descarbonização do setor construtivo” aplicados às edificações e ao ambiente construído. Esta área vem sendo bastante estudada, principalmente pelo seu potencial para reduzir impactos ambientais. Em geral negativos, estes impactos podem ocorrer durante a construção e na fase de ocupação da edificação. Este texto aborda, de forma simples, como estes impactos são considerados para que uma construção possa ser sustentável.
Alguns dos impactos ambientais atribuídos às edificações na fase de construção ou montagem são:
– O consumo de recursos não renováveis ou escassos;
– A emissão de CO2, principalmente pelas indústrias do cimento e do aço; e
– A geração de resíduos no local da construção.
Uma edificação é, por essência, um objeto complexo e composto por vários sistemas. Exemplos destes sistemas são estrutura, alvenarias, e instalação elétrica. Todos os sistemas devem funcionar adequadamente, sem interferir no funcionamento dos outros. Um sistema mal projetado, ou mal instalado pode colocar em risco a construção e as pessoas dentro e fora dela. Para tornar mais visível conceitos muito abstratos, vamos por etapas, a começar pelo projeto.
O projeto
Uma construção sustentável começa com um projeto de arquitetura cuidadoso. Por exemplo, na escolha da geometria (a forma da construção), na definição dos setores (em função da orientação solar), estas escolhas impactam no nível de eficiência energética da edificação e de conforto térmico para os ocupantes. Durante a fase de projeto, ocorrem as escolhas de técnicas construtivas, materiais, sistemas e acabamentos, é quando a edificação tem o maior potencial para ser sustentável. Isso porque durante estas escolhas, já é possível prever e evitar as interações indesejadas antes que ocorram na obra. O uso de programas de simulação computacional permite o refinamento do projeto, quanto à sua forma e implantação no terreno. Permite também tomar decisões quanto à existência e o dimensionamento de condicionadores de ar e estimar o consumo de energia.
A equipe multidisciplinar
A complexidade das decisões tomadas em um projeto de arquitetura requer uma equipe multidisciplinar. Os profissionais devem ser habilitados e capacitados para lidar com o volume de informação a ser gerenciado durante o projeto. Isto pode ser um entrave caso haja um atraso tecnológico na formação profissional. Este problema pode ser sanado com treinamento e capacitação ao longo da carreira.
A técnica construtiva
A escolha da técnica construtiva condiciona a geometria do projeto, o tempo de execução, os materiais e componentes construtivos. A técnica mais comumente empregada no Brasil, tem sido o concreto armado como estrutura, associado à alvenaria com blocos cerâmicos. A busca pela sustentabilidade na construção, trouxe outras técnicas construtivas como a construção modular, a construção seca, do tipo steel frame, que vêm se consolidando no mercado, especialmente pelo baixo consumo de água, e rapidez na execução. Qualquer que seja a técnica escolhida, o projeto deve considerar a capacidade da construção ser adaptada às novas necessidades que surgirão no futuro.
Os materiais de construção
Uma construção sustentável deve ser durável e de fácil manutenção. Assim, a escolha de materiais de alta qualidade reduz a necessidade de manutenção ou reformas além das necessárias.
Além da qualidade, os materiais devem ser de baixo impacto como:
– Revestimentos e isolantes naturais;
– A madeira certificada; e
– A terra como material de construção.
Materiais de construção certificados, ou sustentáveis, devem ser empregados de acordo com suas recomendações técnicas, do contrário, deixam de ser sustentáveis. Isto significa que uma edificação, não passa a ser sustentável pelo simples fato de ser construída, por exemplo, com terra, bambu, ou algum material certificado.
A escolha dos materiais de construção e acabamentos influencia na qualidade do ar, especialmente quanto à emissão de compostos orgânicos voláteis. Estes compostos têm sido considerados prejudiciais para a saúde humana.
A qualidade do ar
A qualidade do ar interno é o resultado das escolhas como posicionamento, tamanho e tipo das janelas. As escolhas são feitas em função do clima, ventos e atividade a ser desempenhada em cada ambiente, de modo a aproveitar a ventilação natural. Para cada ambiente, haverá um número adequado de trocas de ar a ser considerado ainda durante o projeto. Quando não é possível atender a esta condição, há necessidade de ventilação mecânica. A ventilação mecânica consumirá energia e impactará no consumo.
A qualidade do ar interno é importante principalmente onde as temperaturas são mais baixas, e onde há queima (de madeira, ou outro combustível) dentro dos ambientes. Quando feita sem orientação e controle, ou em ambiente inadequado, esta queima pode resultar em prejuízos à saúde e, inclusive, levar a óbito.
Os resíduos de construção
A geração de resíduos de construção pode ser minimizada pela escolha de técnicas construtiva limpas, como a madeira laminada colada (MLC); pela racionalização e modulação da construção, com o uso de elementos pré-moldados; ou ainda, pelo uso de técnicas vernáculas, como a construção com terra.
As certificações
A certificação ambiental de edificações como BREEAM, LEED, ou AQUA validam a condição de sustentabilidade de projetos ou edificações. Cada certificação tem seu próprio processo, critérios, e pontuação para os aspectos relacionados à edificação em análise. Após a certificação, a edificação deverá passar por revalidações periódicas para a confirmação de que os critérios avaliados ainda estão sendo atendidos.
Uma questão recorrente quando o assunto é certificação ambiental das edificações é o custo elevado de todo o processo. Outra questão é o foco em edificações de grande porte como shopping centers ou prédios institucionais. Isto leva a uma concentração de certificação de edificações de grande porte. O que exclui as edificações residenciais e as de menor porte, que ficam sem referências em que se basear para a tomada de decisão.
O que podemos fazer?
Ao considerar todos os aspectos mencionados acima, podemos projetar edifícios que não apenas atendam às nossas necessidades, mas também protejam os recursos naturais e promovam o bem-estar da sociedade.
O primeiro e mais importante passo é buscar informação qualificada. Se for possível, contrate um profissional habilitado e capacitado para auxiliar nesta jornada. A seguir, comece com o que estiver ao seu alcance e amplie o impacto das suas práticas sustentáveis de acordo com a sua possibilidade. Cada pequena contribuição para diminuir o impacto sobre o meio ambiente, pode resultar em um grande impacto. Sua edificação e suas atitudes podem ser um exemplo inspirador para outros!
Este texto considerou os impactos ambientais durante a construção de uma edificação. No próximo texto, abordaremos os impactos ambientais durante a ocupação e uso de uma edificação.
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Ana Villaça é apaixonada por tópicos relacionados a edifícios, desde projetos iniciais até reformas. Atualmente, ela desenvolve estratégias para ajudar os proprietários a tirar o melhor proveito de seus edifícios. Aqui no Blog da Abayomi Academy, Ana apresentará tópicos relacionados à construção, tecnologia e ao modo como usamos os espaços e edifícios ao nosso redor.
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