Saúde Mental no Ambiente de Trabalho
Por Vanessa Canever
Vivemos em uma sociedade acelerada, com aumento das taxas de suicídio, depressão, burnout, ansiedade, entre outras questões relacionadas à saúde mental. Estima-se que mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, sofram de depressão em todo o mundo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o segundo país com maior índice de pessoas com transtornos de ansiedade nas Américas e o quinto no mundo. O Brasil é o país com maior prevalência de depressão na América Latina. Aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com sintomas de burnout, caracterizada pelo esgotamento físico e mental relacionado ao trabalho, de acordo com a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt). Estudos indicam que aproximadamente 70% dos empregados do mundo já sofreram de burnout em algum momento de suas carreiras
O primeiro passo para enfrentar qualquer problema é reconhecê-lo. No entanto, a natureza insidiosa dos transtornos mentais relacionados ao trabalho torna esse reconhecimento particularmente desafiador. Os sinais podem surgir de forma sutil e gradual, disfarçados como simples cansaço ou fases passageiras de desânimo.
Alguns indicadores de que a saúde mental pode estar sendo comprometida incluem:
- Fadiga persistente que não melhora mesmo após o descanso
- Dificuldade em desconectar-se do trabalho, mesmo durante folgas e férias
- Alterações no sono (insônia ou sonolência excessiva)
- Irritabilidade aumentada ou reações emocionais desproporcionais
- Diminuição do prazer em atividades anteriormente agradáveis
- Problemas físicos recorrentes, como dores de cabeça, problemas digestivos, gripes ou tensão muscular
- Sentimentos de incompetência ou fracasso, apesar de bom desempenho objetivo
- Desejo de isolamento social, incluindo de colegas e familiares
- Dificuldade de concentração e comprometimento da memória
É essencial destacar que esses sintomas frequentemente se manifestam de formas que podem ser facilmente justificadas ou racionalizadas: “é apenas uma fase”, “depois das férias melhora”, “foi algo que comi”, “não dormi direito” são explicações comuns que adiam o reconhecimento e a busca por ajuda adequada. O importante é perceber se é algo que está acontecendo pontualmente na vida ou de maneira recorrente.
Na Potenciologia, uma das técnicas que usamos para a recuperação e o fortalecimento da saúde mental é o reconhecimento e cultivo das nossas potências internas. Em momentos de crise, tendemos a focar exclusivamente nas dificuldades e fragilidades, esquecendo completamente das inúmeras forças e recursos internos que já demonstramos em outros momentos de nossa vida:
1. Reconexão com histórias de superação
Recordar momentos em que enfrentamos desafios significativos e os superamos com sucesso. Essa memória ativa nossos recursos internos e nos lembra de nossa capacidade de resiliência.
2. Mapeamento de forças e habilidades
Identificar quais são nossas principais habilidades e pontos fortes, e como podemos aplicá-los na situação atual. Muitas vezes, as mesmas habilidades que nos ajudaram em contextos diferentes podem ser adaptadas para enfrentar os desafios atuais.
3. Ressignificação de experiências
Transformar a narrativa pessoal de “estou sofrendo com este problema” para “estou aprendendo e crescendo com este desafio”. A forma como interpretamos nossas experiências têm um impacto profundo em como nos sentimos em relação a elas.
Para além do manejo dos sintomas, é fundamental compreender as causas subjacentes do sofrimento relacionado ao trabalho. Muitas vezes, o que aparece como burnout ou ansiedade é apenas a manifestação superficial de questões mais profundas.
Se, por exemplo, um profissional que teme uma iminente reestruturação em sua empresa pode, inconscientemente, iniciar conflitos familiares como forma de liberar a tensão acumulada ou uma pessoa que se sente estagnada em sua carreira pode desenvolver impaciência crônica com colegas, canalizando para eles a frustração com sua própria trajetória.
Compreender esses mecanismos é essencial para interromper ciclos de sofrimento e adotar estratégias mais saudáveis e eficazes para lidar com os desafios profissionais. Isso inclui:
- Identificar expectativas não verbalizadas (promoções esperadas, reconhecimento desejado)
- Reconhecer medos e inseguranças subjacentes (medo de falhar, de ser substituído)
- Compreender padrões repetitivos de comportamento e suas verdadeiras motivações.
Diante deste cenário, quais passos práticos podemos adotar para preservar e fortalecer nossa saúde mental no ambiente de trabalho? A Potenciologia sugere um olhar para três aspectos: os pensamentos, as emoções e as ações, para perceber se estão positivos ou negativos e deixa dicas específicas:
Para indivíduos:
- Praticar a auto observação consciente
Estabelecer momentos regulares para “check-ins”, identificando sinais precoces de pensamentos negativos, esgotamento, ansiedade ou qualquer emoção aflitiva, antes que se tornem problemáticos. - Estabelecer fronteiras claras
Definir limites saudáveis entre trabalho e vida pessoal, incluindo horários para desconexão digital e momentos de restauração da energia. - Cultivar relações de apoio
Desenvolver uma rede de suporte tanto no ambiente profissional quanto pessoal, com pessoas com quem se possa compartilhar desafios e receber feedback honesto e de crescimento. - Buscar ajuda especializada
Reconhecer que buscar apoio de profissionais não é sinal de fraqueza, mas de inteligência emocional e autocuidado responsável.
Para Líderes
- Incentivar um ambiente de confiança – Estar acessível e demonstrar empatia ao ouvir preocupações e inquietações dos colaboradores.
- Praticar comunicação aberta – Estabelecer check-ins regulares para entender o bem-estar da equipe.
- Gerenciar expectativas de forma realista – Evitar sobrecarga, delegando tarefas de maneira equilibrada e ajustando demandas conforme necessário.
- Modelar o autocuidado – Demonstrar na prática a importância do equilíbrio, tirando pausas e respeitando horários de descanso.
- Capacitar-se sobre saúde mental – Buscar treinamentos e informações para saber identificar sinais de esgotamento e apoiar a equipe adequadamente.
Para Organizações
- Criar espaços seguros – Estabelecer canais anônimos ou grupos de apoio para que os funcionários possam expressar suas dificuldades sem medo.
- Revisar políticas de trabalho – Avaliar a carga horária, metas e prazos para garantir que são sustentáveis e não promovem sobrecarga.
- Oferecer suporte estruturado – Implementar programas de bem-estar, assistência psicológica e treinamentos em gestão emocional.
- Fomentar uma cultura de respeito – Sensibilizar todos os níveis da empresa sobre a importância da saúde mental.
No contexto brasileiro, um marco importante para a saúde mental no trabalho é a atualização da Norma Regulamentadora 17 (NR-17), com implementação total prevista para 2024. Esta norma, que trata da ergonomia no ambiente de trabalho, teve sua abrangência ampliada para incluir também aspectos psicossociais.
Nós da Potenciologia temos um Programa de Potencialidades que atende os requisitos da NR-1, mapeia o potencial e a satisfação dos colaboradores ao realizarem cada uma das suas atividades, antecipando possíveis problemas de saúde mental, colaborando na organização do trabalho e desenvolvimento das pessoas, baseado em seus pontos fortes.
O aumento dos problemas de saúde mental relacionados ao trabalho é um desafio complexo que exige atenção tanto individual quanto coletiva. Acreditamos que o verdadeiro objetivo não é simplesmente evitar o burnout ou gerenciar a ansiedade, mas criar condições para que cada pessoa possa expressar plenamente seu potencial único, encontrando sentido e satisfação em sua jornada profissional.

Criadora da Potenciologia e da Formação de Potenciólogos. Mestre em Educação. Pós graduada em gestão de pessoas, pedagogia empresarial, dinâmica de grupos e educação a distância. Especializada em Inteligência Emocional e métodos ágeis. Trabalha com a potencialidade humana e o desenvolvimento de pessoas para que possam ter melhores resultados, no menor espaço de tempo possível e de forma leve.