O envelhecimento numa perspectiva individual
Por Arnaldo Lyrio
Todos travamos uma batalha interna quando nos deparamos com o destino. Aceitar a finitude
da vida continua difícil no Século XXI. Ao refletir sobre o envelhecimento, tudo soa pessoal,
individual. Por mais que saibamos que a vida segue um ciclo comum a todos os seres da
natureza, a velhice nos convoca à reflexão sobre o trecho final da nossa vida. Ao considerar o
tempo que passou e o quanto nos falta viver, experimentamos sensações controversas. Para
Flores Sobrinho e Osório (2021), “a velhice humana apresenta-se de forma ambígua, ou seja, é
vista como sinônimo de sabedoria e prestígio, mas também como fase de decrepitude e uma
fonte de sofrimentos, evidenciada como um momento de felicidade para alguns e de tristeza
para outros.”
A verdade é que o processo é único e gradual: não se envelhece mais do que uma vez, nem de
súbito. E não o reconhecemos em nós mesmos. De acordo com o filósofo chinês Lao-Tsé (604
a.C.- 531 a.C.), “a velhice é reconhecida apenas no outro indivíduo humano e não em quem a
vivencia, o detentor do corpo que envelhece”(FLORES SOBRINHO; OSÓRIO, 2021). Por esta
razão, de início encaramos como novidade cada evidência de que o tempo está passando. Os
primeiros sinais aparecem no corpo: cabelos, dentes e rugas se reconfiguram em frente ao
espelho, enquanto joelhos, coluna e quadris modificam nossa forma de andar, de sentar, de
acessar os transporte públicos, fazendo aumentar o tempo para vencer distâncias usuais.

Em termos sensoriais, passamos a esquecer das chaves e de nomes, enquanto objetos
mudam de lugar inexplicavelmente. Nosso equilíbrio é comprometido e os olhos perdem
acuidade e foco. O pacote completo, juntando o estado dos joelhos, da coluna e dos quadris,
aumenta a probabilidade da ocorrência de quedas.
Nesta fase do ciclo de vida, nossa preocupação se concentra no que está acontecendo
conosco. Para entender melhor o que ocorre, procuramos saber como as pessoas da nossa
faixa etária encaram o processo. É neste momento que nos damos conta de que o
envelhecimento não é uma exclusividade, de que este é o destino de todos nós.
A preocupação com a velhice esteve sempre presente em todas as civilizações e pensadores
antigos já se debruçaram sobre o tema. Além do já citado Lao-Tsé na China, Cícero (106 a.C. –
43 a.C) em Roma, jurista, filósofo e político influente, deixou numerosos manuscritos, dentre eles o texto “Saber envelhecer”, finalizado um ano antes do seu falecimento. O livro refuta as
crenças que impingem perdas e limitações à velhice, explorando os aspectos positivos deste
período da vida. Cícero considera a velhice como uma fase natural da vida, rejeitando as ideias
negativas de que se trata de um período de declínio e sofrimento, realçando o valor da
experiência e a sabedoria acumuladas para as gerações subsequentes.
Cerca de 100 anos mais tarde, na mesma Roma de Cícero, Sêneca (4 d.C. – 65 d.C.), também
filósofo, além de poeta e humanista, escreveu o livro “Sobre a brevidade da vida”. Neste texto o
autor se alinha com o pensamento de Cícero quanto à vida e à morte, considerando-as parte
natural da existência. No entanto enfatiza que o desperdício de tempo dificulta as chances de
se aproveitar melhor o presente e de tornar a vida produtiva e significativa. Para ambos o
momento presente deve ser vivido intensamente e a sabedoria é um propósito a ser almejado.
Sêneca considera, a sabedoria e a virtude, chaves para uma vida plena.
Vale destacar as recomendações de Cícero de que se deve manter a mente e o corpo ativos,
através de atividades intelectuais e exercícios físicos. A participação social é considerada
essencial para o bem-estar e a felicidade na velhice. Afinal, de acordo com Sêneca, a vida não
é curta, e sim desperdiçada. Devemos ser, então, mais conscientes da forma como utilizamos o
tempo que recebemos.
No próximo número conversaremos sobre as relações entre o envelhecimento individual e o
envelhecimento populacional. Até lá.
Referências
CÍCERO, Marco Túlio. Sobre envelhecer e A amizade.Porto Alegre: L&PM, 2021. 160p. “De Senectude reflete sobre os conceitos de velhice” Disponível em https://portaldoenvelhecimento.com.br/de-senectude-reflete-sobre-os-conceitos-de-velhice/ Acesso em
20fev2025.
FLORES SOBRINHO, Marcelo Henrique de Jesus; OSÓRIO, Neila Barbosa. A Interpretação da Velhice da Antiguidade Até O Século XXI. Nova Revista Amazônica, Bragança/Pa, v. 09, n. 01, p. 175-187, mar.2021. Semestral. SÊNECA. Sobre a brevidade da vida. Barueri, SP: Camelot, 2021. 217p.

Arnaldo Lyrio é Arquiteto e Urbanista com Doutorado em Design e Mestrado em Arquitetura e Urbanismo, especialista em Design, Acessibilidade e Mobilidade Urbana. MBA em Administração de Marketing com ênfase em Serviços. Conselheiro Titular e Coordenador da Comissão de Acessibilidade e Mobilidade Urbana do CAU RJ; Conselheiro Titular do COMDEF-Rio. Arquiteto da Prefeitura do Rio de Janeiro.
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