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Felicidade Normótica

Por Dulcila Torres

Ser livre, ter o espírito livre é para poucos, pouquíssimos. Os padrões nos perseguem desde o nascimento. Somos forjados com um ideal de família de margarina, temos que estudar muito para “sermos alguém na vida” e nunca nos deram educação financeira para cuidar do tanto de dinheiro que conseguiríamos, aprendemos que trabalhar muito dignifica o homem, mas esqueceram de avisar que nem sempre esse “trabalho” nos honra e nem nos faz honrado. Nos disseram que para termos sucesso temos que fazer as escolhas certas. E eu sempre me pergunto quais são essas tais escolhas certas se ainda somos recém-nascidos na arte de escolher. 

O nosso livrinho da vida começa a ser escrito na concepção por todos os que nos rodearão dali pra frente … nascemos, às vezes, de forma tão violenta que levamos as marcas pela vida inteira; ao passo que vamos crescendo e descobrindo o mundo ao nosso redor, começam as cobranças ao estímulo recebido. 

– Ainda não engatinha? Tem que fazer exercício, estimular. 

– Quando essa criança vai caminhar? Já está a hora. 

– Será que tem atraso cognitivo por não falar ainda?

Tudo tem que acontecer no tempo de quem indaga, os porquês da manada são a regra para uma vida individual. O nosso direito de escolha é ceifado desde muito cedo, não nos ensinam a escolher o que nos cabe, precisamos encaixar o quebra-cabeça da nossa existência a peças que não fazem sentido algum para nós. Simplesmente, porque sim.

Somos estimulados a entrar numa faculdade bem-conceituada e nos formarmos no curso mais concorrido, buscarmos um parceiro fértil como na época das cavernas – há que se dizer que essa fertilidade se amplia para outros âmbitos da vida -; arrumarmos um emprego decente, noivarmos com alianças compradas a prestação porque não se pode noivar sem o acessório que anuncia o compromisso, financiarmos a casa “própria” em 35 anos porque “quem casa quer casa”, mesmo que esse compromisso não seja garantia de nada, então, casamos, somos “estimulados” a ter o primeiro filho, 1 ano após a boda porque “é um tempo bom”; fazemos uma especialização de qualquer coisa só para ter o título de especialista no currículo, – isso é diferencial para o RH; lutamos por uma promoção em um trabalho que não nos satisfaz, mas coloca comida na mesa enquanto rezamos que chegue logo o início do final de semana para “sextarmos” em altíssimo nível e nos livrarmos do pesado fardo de um trabalho insuportável; temos o 2° filho – porque ter 1 é não ter nenhum –, formamos a família perfeita para o mundo e ficamos sobrecarregamos com as escolhas dos outros para nós e ainda somos cobrados por não termos coragem de escolher o melhor pra nós.

Então vem a pergunta: por que fazemos tudo isso”
Porque sim!

Não aprendemos a fazer escolhas, elas doem, angustiam, machucam, não fomos ensinados a nos responsabilizar pelas consequências de todas as ações que saem do padrão a que fomos submetidos.

De acordo com Crema, Leloup e Weill (2012) o ser normal é aquele não se empenha em fazer escolhas e tomar decisões sobre a sua própria existência, ou seja, não faz “render os talentos que o Mistério lhe confiou”, transfere a responsabilidade de ser quem ele é para alguém disposto a dizê-lo o que fazer da própria vida, normalmente, pessoas que o rodeiam e que adoram viver sobre regras coletivas que não fazem sentido individual para algumas pessoas. 

Gostamos dessa Normose que se abate no nosso cerne no primeiro instante em que nos entendemos como gente, o regaço da mãe – zona de conforto – é mais quentinho do que o colo dos lobos que nos aguardam na Selva. Dessa forma, vivemos a vida que não queremos para agradar quem não se importa se estamos realmente bem.

No coração de cada um de nós habitam 2 lobos, qual deles você alimenta? O que espera passivamente pela mudança e se vitimiza a cada rasteira que o mundo dá ou o que corre atrás do que faz sentido para você, que te coloca numa posição ativa diante das tormentas e você escolhe se quer enfrentá-la de peito aberto ou simplesmente colocar a culpa na vida que te deixou em maus lençóis?

Escolha!

Você não veio a esse mundo para assistir a sua vida passar de camarote, ser um desconhecido de si mesmo, sim, para vivê-la.

Decida!

Sua vida só depende das suas escolhas, do seu pertencer, do seu enfrentamento ao Complexo de Jonas, aquele medo do seu self, da sua autenticidade. 

Aprenda a tomar decisões, tome decisões difíceis, se for preciso mude radicalmente a sua rota, vá em busca de algo que te tire dessa normose assustadora que se abate sobre o que deixou de escolher, encontre com a sua vulnerabilidade e peça licença para explorá-la, é difícil e estranho estar frente a frente com ela, eu sei, você experimentará um lado seu que, talvez, nunca tenha visto e experimentado, se oportunize, quem sabe no fim de tudo você seja o autor da sua própria história, o detentor dessa marca chamada EU. 

Seja seu maior desafio!

O mundo SEMPRE foi doido, ninguém nunca teve liberdade de viver o que gosta, basta voltamos à história que comprovaremos que “naquele tempo” também existiam cobranças infundadas e mazelas que distorciam à realidade. O ser humano precisa de regras senão ultrapassa todos os limites. Que limites? Ninguém sabe. O que causa estranhamento em alguns é normal a outros. Esse é o termo, viver na normalidade é teoricamente mais fácil, não é preciso tanto gasto de energia para pensar no próximo passo, ele já foi escrito, basta seguir a cartilha.

O que interessa é aprender a se encaixar, “ser normal”, chamar o mínimo de atenção possível para as nossas necessidades. Nos apresentar sempre de acordo com os ditames da ordem imposta por não sei quem. Ter um comportamento que não choque, opiniões mudas, que planem para bem longe e os planos continuem intactos porque a vida deve ser cartesiana, não cíclica.

Desde cedo somos ensinados a ser fortes por dentro e mostrar uma fragilidade débil por fora, crescemos assim, com essa dualidade tosca, sem sentido, que mais atormenta do que aconchega e vamos vivendo como dá. É isso mesmo que você quer?

Expanda a sua mente na direção do auto acolhimento, autoconfiança e autoconhecimento. Descubra o seu potencial e garanta que a normose esteja cada vez mais distante do que um dia ousará ser: LIVRE.

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