Despertar o Potencial Humano: O Papel de Líderes e Pais
Por Vanessa Canever, Founder da Potenciologia
Há algo profundamente humano no desejo de ver o outro florescer, seja liderando uma equipe, guiando uma família ou contribuindo com a comunidade, somos constantemente colocados em posições de influência — e talvez de despertar — o potencial oculto de quem nos cerca. Essa não é uma tarefa simples. Ela exige presença, discernimento e a coragem de acreditar no que ainda não é visível.
Como líderes e pais, ocupamos papéis fundamentais na arquitetura do desenvolvimento humano. Não somos apenas gestores de comportamento ou provedores de necessidades; somos facilitadores de processos de transformação e, nesse percurso, também somos chamados a crescer.
Reconhecer Potencial: Para Além do Desempenho e do Comportamento
Muitos de nós fomos ensinados a associar potencial com desempenho. Quando alguém alcança bons resultados, celebramos seu talento. Quando alguém tem dificuldades, frequentemente assumimos que lhe falta capacidade. Mas o potencial humano não é desempenho. É possibilidade. É aquela centelha silenciosa, muitas vezes despercebida, que habita cada pessoa — esperando as condições certas para se acender.
Reconhecê-lo exige uma mudança de olhar. Implica ir além do comportamento visível e fazer perguntas mais profundas: O que está por trás dessa reação? Que força está sendo reprimida por medo, trauma ou falta de oportunidade? Que sonho foi silenciado antes mesmo de nascer?
Nesse sentido, tanto a liderança quanto a parentalidade se tornam atos de escuta profunda — não apenas do que é dito, mas do que ainda não foi expressado.
O Poder da Crença: Como a Expectativa Molda a Realidade
Os estudos de Carol Dweck sobre mindset de crescimento ou de Bruce Lipton em Biologia da Crença mostram que a crença tem poder. Quando alguém acredita em nós, nossa capacidade de realização se amplia. O contrário também é verdadeiro: quando somos desacreditados por quem nos lidera, começamos a duvidar de nós mesmos.
Isso significa que nossas expectativas não são neutras. Elas são profecias autorrealizáveis. Um pai que diz repetidamente ao filho que ele é “preguiçoso” não está apenas fazendo uma observação; está atribuindo um papel. Um gestor que assume que uma colaboradora “não tem perfil de liderança” talvez nunca lhe dê a chance de demonstrar o contrário.
Devemos nos perguntar: o que estamos projetando sobre as pessoas que guiamos ou educamos? Estamos abrindo espaço para sermos surpreendidos? Estamos dispostos a estar errados sobre elas — no melhor sentido?
Criar Ambientes de Segurança Psicológica
O potencial não floresce em ambientes de medo ou controle excessivo. Ele se desenvolve em contextos de segurança, curiosidade e confiança. As pessoas performam melhor quando não têm medo de errar, perguntar ou demonstrar vulnerabilidade.
Isso é especialmente verdadeiro na criação dos filhos. Uma criança que teme punição pode esconder suas falhas — e, com elas, seu aprendizado. Da mesma forma, no ambiente de trabalho, uma pessoa que se sente julgada tende a se retrair, silenciar ideias e proteger-se do erro.
Precisamos construir ambientes onde as pessoas se sintam seguras para experimentar, falhar e crescer. Isso não significa ausência de limites ou padrões. Significa que as expectativas vêm acompanhadas de empatia. Que o feedback é dado com respeito. Que a correção está sempre a serviço do desenvolvimento — e não da dominação.
Da Autoridade à Parceria
A verdadeira liderança — seja em uma empresa ou em uma casa — não diz respeito ao poder sobre os outros. Trata-se de poder com os outros. De cultivar autonomia, e não dependência. Inspiração, e não medo. Responsabilidade, e não obediência cega.
Isso exige uma mudança de mentalidade: do controle para a parceria. Em vez de perguntar “Como faço para que eles façam o que eu quero?”, começamos a perguntar “Como posso ajudá-los a se tornarem melhores do que eles imaginam ser?”
Essa mudança é profunda. Ela transforma a forma como falamos, como escutamos, como damos limites, como elogiamos. Muda tudo — porque está enraizada no respeito à singularidade de cada pessoa e no compromisso com o seu florescimento a longo prazo.
Dicas práticas para despertar potenciais
Seja na liderança de uma equipe ou na criação de filhos, alguns movimentos simples e consistentes podem fazer grande diferença:
1. Aumentar o autoconhecimento da pessoa sobre si mesma
Ajude a pessoa a se observar com mais profundidade. Incentive a refletir sobre suas preferências, motivações, talentos e desafios. Perguntas sinceras e curiosas já são um ótimo começo.
2. Fazer com que todos conheçam os potenciais de todos
Quando uma equipe ou família sabe no que cada um é bom, surgem mais oportunidades de colaboração, valorização mútua e crescimento conjunto.
3. Reconhecer e elogiar com intencionalidade
Elogios precisos e sinceros são alimento para o desenvolvimento. Diga o que viu, por que foi importante, como fez diferença. O reconhecimento fortalece a autoestima e aumenta o engajamento.
4. Instigar a aplicação dos potenciais em outros contextos
Ajudar a pessoa a enxergar que o que ela faz bem em um lugar pode ser útil em outro amplia as possibilidades de atuação. Um filho organizado pode usar essa habilidade para liderar um projeto escolar. Um colaborador comunicativo pode contribuir em treinamentos, reuniões ou eventos.
5. Utilizar os pontos fortes para desenvolver os de melhoria
A conexão entre diferentes habilidades é poderosa. Alguém com criatividade pode usá-la para encontrar formas novas de resolver problemas técnicos. Quem tem empatia pode melhorar sua capacidade de negociação. O importante é enxergar os pontos fortes como aliados no processo de evolução.
6. Incentivar experiências fora do padrão
No ambiente familiar, isso pode incluir explorar áreas como arte, esporte, inteligência emocional, projetos voluntários. No trabalho, vale propor rodízio de funções, desafios temporários ou o envolvimento em atividades fora da rotina. A diversidade de experiências expande horizontes e fortalece a adaptabilidade.
7. Estimular o olhar para o todo (sair do autocentramento)
Incentivar o interesse genuíno pelo bem comum ajuda a desenvolver empatia, responsabilidade coletiva e espírito colaborativo. Proponha reflexões e ações que envolvam cuidar do outro, contribuir com o grupo, compreender diferentes perspectivas e agir com generosidade. Um ambiente onde todos se sentem parte e responsáveis pelo todo potencializa o crescimento individual e coletivo.
Conclusão: O Trabalho Compartilhado de Tornar-se
Despertar o potencial não é uma técnica. É uma postura. Uma forma de estar no mundo. Um compromisso com o que ainda não é — mas pode vir a ser. Talvez seja uma das mais preciosas responsabilidades que podemos assumir, seja como pais, líderes, educadores ou, simplesmente, como seres humanos caminhando ao lado de outros seres humanos.
Num mundo que frequentemente valoriza a velocidade, o desempenho e os resultados, esse tipo de presença é, ao mesmo tempo, revolucionário e urgente.
Não precisamos ser perfeitos para realizar esse trabalho. Mas precisamos estar dispostos — a ver, a escutar, a acreditar e a crescer. Porque, no fim, todo ato de despertar o potencial de alguém é também um convite para despertarmos o nosso.

Criadora da Potenciologia e da Formação de Potenciólogos. Mestre em Educação. Pós graduada em gestão de pessoas, pedagogia empresarial, dinâmica de grupos e educação a distância. Especializada em Inteligência Emocional e métodos ágeis. Trabalha com a potencialidade humana e o desenvolvimento de pessoas para que possam ter melhores resultados, no menor espaço de tempo possível e de forma leve.