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Consciência e Inteligência

Por Juliana Costa

Esses dias ouvi de um profissional da saúde mental que não devemos encorajar nossos filhos e alunos parabenizando-os por sua inteligência. Aquilo me deixou encucada. Como não encorajar uma pessoa a desenvolver cada vez mais a sua inteligência, ainda mais num momento onde este deve ser seu maior e principal labor? 

Refletindo sobre isso me vi tomada por outra grande questão: será que ao dizer inteligência o profissional não quis se referir ao intelecto? Penso que nesse caso sua declaração faria muito mais sentido.

Essa não seria a primeira vez em que a inteligência fora confundida com o intelecto. Isso ainda ocorre com muita frequência, como no caso do Teste de QI, cuja sigla refere-se ao “Quociente de Inteligência”, quando na verdade seu fim é medir o intelecto.

Não é que a inteligência e o intelecto não se relacionem. Na verdade ambos são imprescindíveis para o desenvolvimento humano e de certo modo até podemos considerá-los interdependentes, mas uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. 

O intelecto é bruto, refere-se à capacidade de medir, calcular, analisar, olhar para cada parte do todo. Ele alcança o tangível, o conhecido, portanto, imita, copia, interpreta, mas só. Quanto mais intelecto tem o Ser Humano, mais cheio de conhecimento, de informação e, não raro, de ego. Afinal, é do intelectual a tendência à crença na ilusão de que só existe o tangível, e nada mais, ignorando o fato de que a ciência, donde se origina o conhecimento em que ele tanto acredita, ainda que busque sempre concluir, definir e comprovar, não é nem deve ser tomada como conclusiva, definitiva ou mesmo comprovativa, pois sempre está sujeita a novas descobertas, que pode, inclusive, nunca alcançar.

A inteligência, por outro lado, é criativa, está afeita à resolução de problemas, ao entendimento do que é intangível, ao alcance da verdade. É da inteligência, por exemplo, tender ao infinito, isso porque, ao fazer uso dela, o Ser Humano está em contato direto com o desconhecido, através de uma fonte que não se esgota. Ela é, mesmo que em sua menor partícula, fonte de sabedoria, de novidade, é caminho para que o Ser Humano encontre-se consigo mesmo. Por isso, também, é da inteligência a visão do todo, para além da visão das partes.

A inteligência, inclusive, em muito se relaciona com as possibilidades de aprendizagem, isto é, de aquisição do intelecto. Segundo Howard Gardner, por exemplo, psicólogo e educador estadunidense, criador da “Teoria das Inteligências Múltiplas”, o Ser Humano, independentemente da idade, pode aprender determinados conhecimentos de nove formas diferentes, sendo elas as “inteligências” lógico-matemática, linguística, interpessoal, intrapessoal, corporal, espacial, musical, naturalista e existencial. Essa teoria defende que, no processo formal de educação, se prime por apresentar os conhecimentos aos estudantes de cada uma dessas formas, tornando assim o ensino tão democrático quanto o aprendizado.

Percebe nisto a relação entre o intelecto e a inteligência? Eles são como lados diferentes da mesma moeda, por isso, assim como não faz sentido dar pasto ao intelecto sem que se saiba fazer bom uso disto, fruto do desenvolvimento da inteligência, não adianta tentar desenvolver a inteligência sem que se tenha repertório para isso – coisa do intelecto.

E onde entra a Consciência nessa história? Bom, nem numa coisa, nem noutra, e nas duas ao mesmo tempo.

A relação do intelecto com a Consciência se dá fruto da possibilidade de se desenvolver a razão, que mesmo sendo diametralmente oposta à Consciência, possibilita a quem faz uso dela, um caminhar cada vez mais reto.

Já a inteligência, se relaciona com a Consciência pelo seu elo com a Verdade, afinal, é da inteligência buscar e achar a verdade como ela é, sem ressalvas, e é da Consciência praticá-la.

Nesse âmbito, quanto mais razão se tem, fruto do intelecto, e quanto melhor percepção da verdade se desenvolve, fruto da inteligência, maior é a capacidade do Ser Humano despertar, desenvolver e construir sua Consciência.

Agora, sabendo de tudo isto, volto à nossa primeira questão: será mesmo que não devemos encorajar nossos filhos e alunos por sua inteligência?

Consciencióloga, Educadora com experiência em todos os níveis da Educação Básica no Brasil, Especialista em Ensino e Autoconhecimento, Consciência e Educação, Neuropsicologia e Psicopedagogia. Mestranda em Psicologia Clínica e de Aconselhamento com foco em Satisfação no Trabalho, Trabalho Digno, Cinco Grandes Fatores da Personalidade (Big Five) e Saúde Mental. Docente em cursos de Graduação e Pós-graduação nas modalidades presencial e à distância. Coordenadora do Núcleo de Apoio, Acessibilidade e Inclusão numa Faculdade Brasileira. Palestrante com experiência internacional em Dinamarca, Austrália, Estados Unidos, México, Portugal e Brasil. Escritora de diversos artigos e capítulos de livro, bem como da série “Abordagens sobre a Consciência em seu Pragmatismo”. Consultora em Ciências da Educação em diversas empresas de cunho público e privado.

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