Por Ana Arcanjo

A inteligência artificial (IA) já está tomando conta de tudo – dos nossos feeds de notícias aos nossos assistentes de voz. Então, por que não deixar que ela também redesenhe nossas cidades? No artigo anterior, discutimos como a IA generativa está revolucionando a arquitetura e o urbanismo. Agora, temos um exemplo prático: Cityzen Tower, o novo arranha-céu da Zaha Hadid Architects (ZHA) em Tbilisi, Geórgia. Não é apenas um prédio – é uma peça de design biofílico, sustentável e, claro, otimizada por IA. Mas será que esse futuro altamente projetado está sendo construído para as pessoas ou para um ideal de cidade que nem sabemos se queremos?

Cityzen Tower se ergue imponente onde antes funcionava a antiga sede militar soviética – um espaço que, ironicamente, simbolizava um passado onde o controle era absoluto. Agora, o controle é outro: algoritmos, análises de dados e modelagens computacionais definem cada centímetro do espaço urbano. Localizada em Saburtalo, uma região acadêmica e comercial em ascensão, a torre promete transformar o skyline da cidade. E sim, há 23.000 m² de áreas verdes, praças e rotas para pedestres. Mas o que é melhor para a vida urbana: um projeto planejado até o último pixel ou o caos espontâneo e imperfeito das cidades que conhecemos?

A ZHA adora dizer que seus projetos são inspirados na natureza, e Cityzen Tower não é exceção. Seu design evoca as colinas e vales sinuosos de Tbilisi, como se a IA tivesse decidido que o melhor jeito de homenagear o ambiente natural fosse construir um edifício de vidro e aço que se curva como um organismo vivo. Os terraços ajardinados são um toque bonito – mas será que eles recriam a experiência de uma caminhada despreocupada pelo parque ou servem mais como um backdrop perfeito para fotos no Instagram?

Aqui está a parte onde a IA entra como a grande heroína:

• Análises de vento e luz solar assistidas por IA garantem um conforto térmico impecável (para aqueles que podem pagar por um espaço lá dentro, claro).
• Varandas e brises inteligentes otimizam a luz natural e reduzem o consumo de energia – porque um prédio que pensa por si só é claramente o que faltava para salvar o planeta.
• Captação e reuso da água da chuva ajudam na sustentabilidade. Mas quem vai garantir que essa água será usada de maneira eficiente para toda a comunidade e não apenas para manter os jardins suspensos exuberantes?

Se a IA realmente tornou esse projeto tão eficiente e sustentável, será que deveríamos entregar a ela o planejamento de todas as cidades do futuro? E mais importante: se a IA está otimizando o espaço, quem está otimizando a IA para garantir que ela priorize as necessidades reais das pessoas?

Cityzen Tower está sendo vendida como um ícone de inovação e progresso – mas progresso para quem? O projeto reflete tendências globais de urbanismo inteligente, onde espaços são projetados para serem mais eficientes, sustentáveis e visualmente impressionantes. Mas enquanto a torre se integra perfeitamente ao seu ambiente em um sentido estético, resta saber se ela se integrará à vida cotidiana da cidade.

Podemos imaginar dois futuros possíveis:

1. Um paraíso urbano onde a tecnologia finalmente resolve os problemas das cidades. O tráfego flui, o clima dentro dos edifícios é perfeito e as áreas verdes são acessíveis a todos.
2. Uma distopia de vidro e aço onde a IA otimiza tudo – exceto a vida das pessoas comuns. Moradia cara, espaços “verdes” que só existem para valorizar imóveis e um urbanismo que beneficia poucos enquanto ignora as necessidades da maioria.

Cityzen Tower é um projeto incrível, não há dúvidas. Mas precisamos perguntar: essa nova onda de urbanismo hiperplanejado e assistido por IA está realmente nos levando a um futuro melhor? Ou apenas criando cidades mais bonitas no papel (ou na tela de um computador), enquanto a desigualdade e a exclusão persistem no mundo real? Ainda não temos todas as respostas para essas perguntas, mas o questionamento é essencial. Precisamos refletir sobre o que estamos construindo e para quem, antes que as cidades do futuro sejam decididas apenas por algoritmos e interesses imobiliários. A verdadeira inovação não está apenas no design impressionante, mas na capacidade de criar espaços que atendam às necessidades reais das pessoas.

Talvez seja hora de não apenas admirarmos esses projetos arquitetônicos ambiciosos, mas também de questionarmos para quem eles estão sendo feitos. Afinal, uma cidade inteligente não é apenas aquela otimizada por IA – mas aquela que realmente funciona para quem vive nela.

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Name: Cityzen Tower

Architect: Zaha Hadid Architects | @zahahadidarchitects

Location: Tbilisi, Georgia

client: Cityzen

completion: expected 2028

visualizations: © Negativ | @negativ_va 

design: Patrik Schumacher
ZHA project director: Manuela Gatto
ZHA project associate: Yevgeniya Pozigun
ZHA project architects: Takehiko Iseki, Massimo Napoleoni
ZHA project leads: Armando Bussey (Design), Bowen Miao (Facade), Maria Avrami (BIM),
ZHA technical coordination: Kutbuddin Nadiadi
ZHA project team: Alicia Hidalgo Lopez, Armando Bussey, Besan Abudayah, Bowen Miao, Catherine McCann, Charles Walker, Ignacio Fernandez De Castro, Jessica Wang, Jose Pareja Gomez, Kutbuddin Nadiadi, Laizhen Wu, Manuela Gatto, Maria Avrami, Massimo Napoleoni, Panos Ioakim, Takehiko Iseki, Thomas Bagnoli, Yevgeniya Pozigun
ZHA analytics & insights team: Uli Blum, Danial Haziq
ZHA sustainability team: Aleksander Mastalski, Aditya Ambare, Carlos Bausa Martinez, Shibani Choudhury, Disha Shetty

Local architect: Artstudio Project
Structural engineers: Capiteli
Facade engineering: FMT Facade Consultants
MEP: Zerone
Landscape consultant: Artstudio Project
Animation: Render.ge
LEED consultant: Sustainable Engineering Ltd

Arquiteta de interiores, Mestre em design e pesquisadora interdisciplinar. Entusiasta de metodologias inovadoras de ensino. 

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