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Avaliação e Reconstrução de Cidades em Cenário Pós-Desastres

Por Patrícia Fraga

Nos últimos meses, o mundo testemunhou uma série de desastres devastadores que deixaram um rastro de destruição e sofrimento. Incêndios catastróficos no Havaí, enchentes avassaladoras na China, Brasil, Dubai e Afeganistão são apenas alguns exemplos das tragédias recentes que sublinham a vulnerabilidade das cidades frente a eventos extremos. Esses desastres não só destruíram infraestruturas e ecossistemas, mas também impactaram profundamente a vida das pessoas, provocando perdas de vidas, deslocamentos em massa e traumas psicológicos. Diante desse cenário, é crucial que a retomada da vida normal seja feita de maneira ponderada e segura. A avaliação pós-desastre e a posterior reconstrução das cidades devem seguir um caminho estruturado e estratégico para evitar mais problemas. Este texto visa trazer clareza sobre os aspectos críticos que devem ser observados neste processo, destacando a importância de evitar decisões precipitadas e garantir que as ações tomadas protejam as pessoas e os profissionais envolvidos, evitando desperdício de recursos e novas tragédias.

Desastres Naturais e Provocados: Impacto no Ambiente, Natureza e Seres Humanos

Os desastres, sejam naturais como terremotos, inundações e incêndios florestais, ou provocados pelo homem como guerras e acidentes industriais, causam danos severos ao ambiente e à sociedade. Os incêndios recentes no Havaí destruíram vastas áreas de vegetação e comunidades inteiras, enquanto as enchentes em várias partes do mundo, incluindo a China e o Brasil, devastaram cidades, destruíram casas e deixaram milhões de desabrigados. Essas calamidades resultam na degradação do solo, poluição da água e perda de biodiversidade. Para os seres humanos, as consequências vão além das perdas materiais, abrangendo a perda de vidas, traumas psicológicos e a interrupção de serviços essenciais, tornando a recuperação um desafio complexo e multidimensional.

Avaliação Pós-Desastre: Ambiente Físico e Ser Humano

A avaliação pós-desastre é um passo crucial para a efetiva reconstrução. Esta avaliação deve ser abrangente, contemplando o estado do ambiente físico e as condições das comunidades afetadas. Além dos riscos tradicionais, como a integridade das infraestruturas e a estabilidade dos ecossistemas, outros perigos emergem nesse momento.

  1. Redes de Energia Elétrica e Água: Inundações podem comprometer as redes de energia elétrica e água, aumentando o risco de curtos-circuitos, incêndios e contaminação da água potável. Avaliar e reparar essas redes é fundamental para garantir o fornecimento de serviços básicos à população afetada.
  2. Desabamentos e Estruturas Abaladas: Construções danificadas durante o desastre podem representar um risco contínuo de desabamentos. Avaliar a estabilidade das estruturas e realizar reparos ou demolições seguras é essencial para evitar novas tragédias e proteger a vida das pessoas.
  3. Contaminação das Águas: A ausência de água potável e a contaminação das águas do solo, subsolo e da rede de saneamento representam graves riscos para a saúde pública. A falta de acesso a água limpa pode levar à propagação de doenças transmitidas pela água, aumentando ainda mais o sofrimento das comunidades afetadas.

Além disso, outros riscos devem ser considerados, tais como a decomposição de corpos e a falta ou perda do saneamento básico, que podem levar à contaminação do solo e da água, aumentando o risco de propagação de doenças.

A saúde mental das comunidades afetadas também é uma preocupação urgente, pois os traumas psicológicos podem ter efeitos devastadores a longo prazo. Programas de apoio e aconselhamento realizados por profissionais experientes são fundamentais para ajudar as vítimas a lidar com o trauma e reconstruir suas vidas. Garantir o acesso a cuidados médicos e psicológicos é fundamental para promover a recuperação integral das comunidades afetadas. A avaliação pós-desastre deve ser holística e abrangente, considerando todos os aspectos que afetam a segurança e o bem-estar das comunidades afetadas.

Cenário Pós-Desastre: Desespero, Solidariedade e Aproveitadores

Após a ocorrência de um desastre, o cenário que se segue costuma ser marcado por caos e desordem. O desespero toma conta das pessoas, enquanto a violência e os saques se tornam uma realidade. Nesse momento crítico, é comum que crianças e idosos tenham se separados de suas famílias, aumentando ainda mais a sensação de desamparo. Enquanto alguns lutam pela sobrevivência em um ambiente de “salve-se quem puder”, outros se unem em solidariedade, oferecendo ajuda e apoio mútuo.

É importante compreender os motivos por trás desse caos. A falta de recursos básicos, como água potável, alimentos e abrigo, gera uma competição desesperada por sobrevivência. A incerteza em relação ao futuro e a perda de entes queridos aumentam a tensão emocional, levando algumas pessoas a agirem impulsivamente em busca de suprimentos e segurança.

Enquanto a solidariedade surge por um lado, é importante ter a percepção da presença daqueles que se aproveitam da vulnerabilidade dos afetados. A resposta imediata deve ser organizada e eficaz, com ações coordenadas para conter a violência, proteger os mais vulneráveis e fornecer ajuda básica. A presença de voluntários e organizações de ajuda desempenha um papel crucial nesse processo, fornecendo suporte vital e ajudando a restaurar um senso de normalidade em meio ao caos.

Nesse contexto, estar preparado para o imprevisto é essencial. A educação sobre medidas de segurança e primeiros socorros pode salvar vidas em momentos de crise. É fundamental ensinar às crianças como reagir em situações de emergência, incluindo informações sobre como encontrar ajuda e permanecer em segurança. Ensinar e praticar a solidariedade e o apoio mútuo devem ser incentivados, pois ajuda a fortalece os laços comunitários nos momentos de desafios e contribui para um ambiente de colaboração em vez de competição.

Preparação e Resposta em Situações de Desastre

Nos Estados Unidos, assim como em muitos outros países, a preparação e resposta a desastres são coordenadas por organizações dedicadas e programas de treinamento específicos. A Federal Emergency Management Agency (FEMA) e o National Incident Management System (NIMS) desempenham papéis cruciais nesse processo. A FEMA coordena a resposta federal a desastres e oferece suporte para a recuperação, enquanto o NIMS fornece um framework para a colaboração eficaz entre diferentes organizações durante emergências.

Equipes de resposta são rigorosamente treinadas e seguem uma ordem de chegada estruturada para garantir uma resposta coordenada e eficiente. Inicialmente, equipes de busca e resgate entram em ação, seguidas por equipes médicas e de suporte logístico, e finalmente equipes de reconstrução e reabilitação.

Além das agências governamentais, instituições como o Instituto de Arquitetos Americanos preparam profissionais para atuarem como voluntários na avaliação pós-desastre. Esses profissionais são treinados para avaliar a integridade das infraestruturas e apoiar na reconstrução das comunidades afetadas. Eles desempenham um papel fundamental na determinação da segurança das edificações e na avaliação do ambiente físico pós-desastre. Essas equipes são responsáveis por recomendarem se as pessoas podem retornar para suas casas, se as edificações estão seguras para receberem as pessoas novamente, ou se há a necessidade de demolição e reconstrução. Essa avaliação é essencial para garantir a segurança e o bem-estar das comunidades afetadas, além de orientar as decisões de reconstrução e recuperação apropriadas.

A preparação da população também desempenha um papel crucial na resposta a desastres. Em países como os Estados Unidos e o Japão, a preparação começa cedo, com a realização regular de exercícios (drills) em escolas e empresas. Desde a escola elementar, crianças participam de simulações de evacuação e recebem educação sobre segurança em situações de emergência. Da mesma forma, as empresas e comunidades realizam drills para garantir que seus funcionários e moradores estejam preparados para agir em casos de desastres. Essa cultura de preparação ajuda a reduzir o pânico e aumentar a eficácia da resposta em situações reais.

Exemplos reais de desastres ao redor do mundo fornecem valiosas lições sobre preparação e resposta. Por exemplo, após a explosão da Usina Nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011, o país implementou evacuações rápidas e medidas de contenção após o terremoto e tsunami, incluindo monitoramento contínuo e reavaliação de zonas de segurança. O Furacão Katrina, nos Estados Unidos, em 2005, mostrou a importância de uma resposta inicial mais ágil, o que resultou em esforços massivos para reforçar diques, melhorar sistemas de evacuação, repensar as moradias e estabelecer planos de resposta mais eficientes. Já o tsunami na Indonésia, em 2004, destacou a necessidade de uma avaliação pós-desastre abrangente, que incluiu o estabelecimento de um sistema de alerta precoce e a reconstrução de infraestrutura resiliente, com foco na reabilitação das comunidades e no desenvolvimento sustentável. Essas experiências reais ressaltam a importância da preparação e da resposta coordenada para mitigar os impactos dos desastres e garantir a segurança e o bem-estar das populações afetadas.

Elementos Essenciais no Planejamento de Reconstrução

Planejar a reconstrução de uma cidade após um desastre exige uma abordagem multifacetada e estratégica. Alguns elementos essenciais a serem considerados incluem:

  1. Avaliação de Riscos e Vulnerabilidades: Compreender as causas do desastre e as áreas mais vulneráveis para implementar medidas de mitigação eficazes.
  2. Infraestrutura Resiliente: Construir ou reparar infraestruturas com materiais e técnicas que resistam a futuros desastres.
  3. Planejamento Urbano Sustentável: Integrar práticas de desenvolvimento sustentável que considerem a preservação ambiental e a adaptação às mudanças climáticas.
  4. Participação Comunitária: Envolver a comunidade no processo de reconstrução para garantir que as necessidades e preocupações locais sejam atendidas.
  5. Prevenção e Preparação: Desenvolver planos de emergência, treinamento e educação contínua para a população e os profissionais envolvidos.

Reconstrução Sustentável e Adaptada às Necessidades Locais

Na fase de reconstrução após um desastre, é crucial considerar diferentes tipos de edificações que se adequem às características e necessidades específicas de cada região. Reconstruir não deve significar apenas restaurar o que existia antes, mas sim aproveitar a oportunidade para melhorar e tornar as estruturas mais resilientes, sustentáveis e economicamente viáveis.

É fundamental entender que o que é adequado para uma fase da reconstrução ou para uma cidade pode não ser adequado para outra fase ou mesmo para a cidade vizinha. Entre as opções a serem consideradas estão as casas pré-fabricadas de concreto ou madeira, que podem ser construídas rapidamente e podem ser mais resistentes a determinados desastres naturais. As casas containers também são uma alternativa interessante, oferecendo uma solução rápida e sustentável. Alojamentos provisórios podem ser uma solução temporária enquanto as estruturas permanentes são reconstruídas, tomando o cuidado de que não se perder o foco no planejamento de reconstrução permanente.

Outra opção a ser explorada são os earthships, que são casas construídas com materiais naturais e sustentáveis, como pneus reciclados e vidro, que proporcionam isolamento térmico e redução de custos de energia. Outras opções de casas ecológicas, que utilizam tecnologias verdes, como captação de água da chuva e energia solar, também são uma alternativa para reduzir o impacto ambiental das construções e contribuir na prevenção de novos desastres ambientais.

A reconstrução pós-desastre é uma oportunidade para fazer melhorias significativas no ambiente urbano e construído, tornando-os mais resistentes a futuros eventos adversos, mais adequados às necessidades locais e mais sustentáveis em termos ambientais e econômicos. Essa abordagem ajuda na recuperação das comunidades afetadas e também contribui para a construção de um futuro mais resiliente e sustentável.

Conclusão

A avaliação e reconstrução de cidades em cenários pós-desastre exigem um planejamento cuidadoso e estratégico, que leve em consideração tanto a resolução imediata quanto a prevenção a longo prazo. É fundamental que as decisões sejam embasadas para evitar ações impulsivas e inadequadas, que possam colocar mais vidas em risco e desperdiçar recursos preciosos. A colaboração entre o poder público, empresas e população é essencial para criar um ambiente resiliente e preparado para enfrentar futuros desastres.

No entanto, é crucial entender que o desejo sincero de ajudar não deve substituir a importância do planejamento e da precaução antes de iniciar o processo de reconstrução. É fundamental que o planejamento seja liderado por indivíduos qualificados e com experiência adequada, garantindo assim a eficácia e segurança das ações tomadas.

A conscientização e a educação são ferramentas poderosas para garantir que todos estejam preparados para agir de forma eficaz e segura em situações de crise. Com um planejamento estratégico abrangente e a implementação de medidas de prevenção, podemos minimizar os impactos dos desastres e construir comunidades mais fortes e seguras. A reconstrução não deve ser apenas uma restauração do que existia antes, mas sim uma oportunidade para fazer melhorias significativas, tornando as estruturas mais resilientes, sustentáveis e adaptadas às necessidades locais. Ao aprender com experiências passadas e abraçar inovações, podemos construir um futuro mais seguro e preparado para enfrentar os desafios que podem surgir.

Patrícia Fraga, profissional visionária e dinâmica, é doutora em Arquitetura e combina suas paixões por urbanismo sustentável, educação, tecnologia e promoção da felicidade. Com uma carreira multifacetada que abrange engenharia, construção e academia, ela é fundadora e diretora de felicidade da Abayomi LLC e diretora executiva da Abayomi Academy. A influência global de Patrícia estende-se através de suas aulas, orientações de trabalhos acadêmicos, publicações e palestras internacionais. O seu compromisso com a inclusão cultural inspira projetos transformadores em diferentes parte do mundo, enfatizando a integração da tecnologia com a responsabilidade ambiental. Mãe de cinco filhos, a jornada de Patrícia reflete resiliência, inovação e dedicação à criação de espaços de vida positivos, sustentáveis e felizes.

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